22 julho, 2016

É preciso aceitar que crianças existem (e choram)

Se tem uma coisa que me incomoda profundamente é ler relatos de mães que se sentiram envergonhadas por causa do choro dos filhos durante vôos, mães que preparam 850 pacotinhos de bala acompanhados de pedidos de desculpas adiantados por uma possível birra. O motivo do meu incômodo primeiramente vem pela minha formação como comissária de bordo em saber o quanto a pressurização incomoda os adultos e, principalmente, as crianças. Vem por eu ser mãe e entender que sim, crianças choram e vão chorar no local em que você mais precise que ela fique quieta, aí você fica nervosa, a beira de um ataque de nervos e o choro só aumenta, você vai querer enfiar uma rolha na boca da criança, jogar ela pela janela do avião ou mudar de poltrona e fingir que não a conhece, que foi despachada por engano, mas quanto mais as pessoas gritam "shhhhhh", mais a criança berra. E é assim desde que nos entendemos por gente. Sempre vai ter aquela tiazona que vai soltar um "não é possível que não conseguem controlar essa criança", "os meus filhos nunca fizeram isso" ou "se fosse meu filho ia ver só". Mas ó: tudo mentira, provavelmente os filhos dela descascavam as paredes da aeronave, ok? E se acalme, é preciso passar segurança para a criança.

Eu sou acostumada a viajar, amo voar e sinto prazer em estar no alto. Mas toda vez que piso em um avião e ele fecha a porta eu rezo por todas as religiões possíveis para que eu chegue viva ao meu destino - faço isso com carro e elevador, não quero morrer, me julguem. E mesmo com esse costume, sei que é um ambiente propício a desconfortos. E nós, adultos, precisamos acolher essas famílias. Ninguém viaja com bebê despreocupado, aquele responsável provavelmente está com cinco quilos de giz de cera, um tablet com todas as temporadas da galinha pintadinha, xuxa, patati patatá e 32 gigas de aplicativos infantis, muita comida, fralda, leite, 9 trocas de roupa e fez 15 sessões de terapia pra conseguir embarcar com a criança. Porque não é fácil. Nunca é. E todos sabemos disso, mas é só apontar uma criança na entrada que os narizes se torcem e cada passageiro com a poltrona ao lado vaga começa a pedir a Deus para que aquele assento não seja ocupado por aquele mini terrorista.

Em Outubro do ano passado pegamos um voo de Detroit pra Las Vegas, um voo de quatro horas em que eu já entrei exausta. Nossos assentos eram os últimos, o meu da janela e quando eu vejo lá na frente uma criança de um ano vindo em minha direção. Eu, mãe de duas crianças, falei com Samuel: "Do jeito que eu sou azarada essa criança vai sentar do nosso lado". Óbvio que sentou, né. A mãe, jovem como eu, estava de mudança pra Vegas na cidade do namorado, era possível ver a tensão nos olhos dela e minha culpa me invadiu naquele momento, tudo o que ela precisava era relaxar. Eu não converso em inglês nem por um milhão de reais, me vi obrigada a conversar com aquela mãe. Expliquei que tinha um filho na mesma idade e que era uma criança super agitada, que se ela precisasse de ajuda poderia contar comigo e tentei ao máximo ajudá-la a entreter aquela menininha durante nosso trajeto. Depois de uma hora a menininha, Jessica, começou a choramingar. Era claro que ela estava com sono, apenas sono. Samuel dormia feito pedra e ouvi vários "sssh's". A mãe incomodada me disse que iria ao banheiro e levou a criança, lá ela ficou por duas horas. Duas horas dentro de um banheiro com uma criança, por nada mais que medo de incomodar. Vocês tem noção do que é isso? Não me desce, não consigo imaginar o motivo de um adulto ficar soltando indiretas para que a criança se cale. Essas pessoas acham mesmo que os pais querem que o filho chore? "Vai filho, chora mesmo, berra, urra, chora mais, tá pouco". Porque não é assim, nunca será.

Eu já fui criança e lembro muito bem do meu pavor ao entrar em elevadores, das minhas birras quando contrariada. Lembro da minha mãe falar que morria de vergonha, lembro do meu sentimento de querer ser atendida e não saber o que falar. Mas lembro principalmente de ter aprendido a me comportar em público, a socializar de forma considerada aceitável, a me comportar a mesa, em restaurante, com a prática. A cada vez que eu frequentava ambientes diferentes, mais eu aprendia. Claro que hoje eu ainda sinto vontade de deitar no chão, berrar e bater os pés (isso acontece muito em vôos, onde quebram minhas malas ou atrasam), mas me controlo. Porque cresci, igual a todos nós e igual a essas crianças que um dia crescerão e eu vou torcer pra que não se torne a tiazona que torce o nariz.

Ah, uma dica: inventaram uma coisa super legal chamada fone de ouvido, você liga ele no buraquinho do seu telefone e coloca músicas, pode colocar até as músicas da igreja ou Padre Marcelo Rossi cantando Erguei as mãos. Não se esqueça de colocar seu telefone em modo avião, ok?

Um comentário:

  1. Vou confessar que teve um vôo que eu torci pro Felipe chorar, ele geralmente não chora. Estava com minha irmã e o Felipe, porém nós duas estávamos em assentos diferentes. Pensei, quando entrar no avião a gente pede pra quem estiver do meu lado trocar de assento com ela, afinal ninguém quer sentar do lado de um bebê. Pois não é que o sujeito do meu lado não quis trocar, porque o da minha irmã era janela e ele queria corredor 😤 só pensei, pois tomara que o Felipe berre bastante pra você aprender a não ajudar uma mãe seu filho de chocadeira 😉😂😂😂 mas aí o rapaz que estava do lado da minha irmã, no espaço azul que era bem mais legal, trocou comigo numa boa, e nem precisei beliscar o Felipe 😆😆😆😆

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