16 fevereiro, 2016

Seguimos colorindo nuvens


Dizem: quando nasce um bebê, nasce uma mãe. E junto, nasce o medo da morte. Um medo egoísta que toda mãe sente. O medo de perder o crescimento do filho, do sorriso não dado, de vê-lo formando, crescendo, se apaixonando pelo primeiro parceiro e saindo para a primeira viagem. É o medo da perda, medo de perder a alegria da experiência alheia.
Mas quando nasce uma mãe, nasce um mito também. Um mito da mulher invencível, que aguenta todas as dores, que é forte na perda, forte na doença e forte na tristeza. Mentira. Mãe só resiste porque é ser feito de esperança, porque é feita de várias. Se engana quem diz que cada mãe é única, cada mãe é feita de várias partes, da história e vivência de várias mulheres e é onde se reúne toda luz do mundo.
Há uma semana eu tive medo de morrer, medo de não resistir ao entrar para um procedimento simples de retirada na vesícula. Que direito eu tinha de deixar dois meninos para que o mundo pudesse vê-los crescer através de outros olhos? Meus meninos são os meninos dos meus olhos. Há dois dias eu tive medo de morrer novamente, ao passar mal sozinha no banheiro. E a cada segundo eu vejo que a vida é um fio prestes a arrebentar. Hoje eu tive medo por outra mãe que deixou seu menino nesse mundo, tive medo porque ela irá perder tudo o que nosso prazer egoísta quer guardar na memória. Tive medo e chorei por uma mãe que não conheci, pois sei que em mim tinha um pouco dela e nela tinha um pouco de mim.
Cada vez que uma mãe morre, morre um pouco da esperança. Morre um pouco da doçura do mundo. Morre um pouco de cuidado, de ternura. Um ser tão carregado de amor não pode ir assim, ainda que tenhamos a certeza que um reino de mulheres irão se unir a cada uma que partir, a perfeição daqueles cuidados é único, único e exclusivo aquela mulher.
Por favor, vida, não seja frágil com nós mães, nem com nossos filhos.
Eu continuo tento medo do esquecimento, mas hoje eu só queria que todas as mães fossem eternas. 




3 comentários:

  1. Obrigada por esse texto amiga. Lindo!

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  2. Marina, sem palavras... Seus textos são únicos, carregados de emoções e sensações! Muito obrigada por compartilhar tudo isso, quero mais, muito mais...
    Por favor escreva sempre, bjxxxtati...

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  3. Texto lindo! Adorei, e me identifiquei!!!

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