25 março, 2016

Meu filho foi mordido na escola

Hoje, ao buscar Francisco, recebo o bilhete de que ele havia sido mordido por um coleguinha na escola. Dei uma olhada e uma marca vermelha estava em seu rosto, ele continuava brincando e na hora senti pena dele, mas ao mesmo tempo me alegrei. Me alegrei por ele não ter sido a criança que mordeu e tive ainda mais pena da mãe que recebeu o bilhete de que o filho havia mordido outra criança. Meu filho passaria por aquela situação sem nenhum problema, afinal a dor já havia passado e ele nem lembrava do ocorrido. Mas aquela mãe com certeza iria se culpar e procurar onde tinha errado para que seu bebê pudesse ter feito aquilo com outra criança. E o que ninguém conta é que crianças mordem, se empurram, se batem e na maioria das vezes não é culpa de ninguém. É só porque eles não sabem se expressar de forma clara o bastante, então o corpo age.
Eu já vivi os dois lados, por muitos anos fui a mãe da criança que apanhava e nunca batia. E ele sempre tinha a razão, o que de certa forma me deixava tranquila. Todos os problemas do João na escola, no parquinho, (...) sempre foram resolvidos com diálogos. Quando Francisco nasceu experimentei o outro lado da maternidade, fui a mãe da criança que bate. Todas as questões ele resolvia na força, com toda a intensidade que a ele pertencia. E te conto uma coisa: a mãe do "agressor" sempre sofre mais.
Durante muito tempo deixamos de fazer programas com outras crianças para evitar possíveis ataques de fúria, todo passeio exigia uma preparação psicológica para que soubéssemos controlar possíveis situações desagradáveis. Eu fui a mãe que deixou de sair com o meu filho com medo dele bater em outras crianças, mas nunca deixei de sair com medo de que meu filho apanhasse.
A escola foi adiada por dois anos até que ele soubesse se expressar melhor de forma que não ferisse algum coleguinha e todos os dias ao buscá-lo fazemos a mesma pergunta - "Foi tudo bem?" - com medo da resposta. Mas essa semana a resposta foi diferente, ele é quem havia ganhado a mordida.
Eu só queria mandar um bilhete pra casa daquela criança avisando que está tudo bem, para que eles não se culpem, para que aquela mãe saiba que ela faz seu melhor e que eu entendo esse comportamento. Queria falar pra ela não se sentir envergonhada, que um dia meu filho fará alguma coisa que doa em outra criança. Mas não é maldade, nunca será, minutos depois eles brincarão juntos. Só nos cabe repetir mil vezes que o caminho é o amor, o carinho e a brincadeira. Só precisamos ser espelho, mais nada.
Um gelinho curou a mordida por aqui, mas se você - outra mãe - quiser ser curada, vem aqui que te dou um abraço. Somos UMA!


7 comentários:

  1. Vc sabe que penso diferente quanto à esse assunto mas diante de um texto lindo desse, como não se render? Magnificamente escrito! Amoooo gente que me faz morder a língua e mudar de opinião! Amo vc, amiga! Parabéns!

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  2. Vc sabe que penso diferente quanto à esse assunto mas diante de um texto lindo desse, como não se render? Magnificamente escrito! Amoooo gente que me faz morder a língua e mudar de opinião! Amo vc, amiga! Parabéns!

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  3. Depois do dia de hoje, só posso dizer que chorei. Leio, pesquiso e pratico o assunto da pedagogia e psicologia diariamente de forma profissional, mas quando acontece com nosso (a) filho (o), isso desestabiliza a gente de forma assustadora. Obrigada, Marina, por me abraçar com palavras.

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  4. Depois do dia de hoje, só posso dizer que chorei. Leio, pesquiso e pratico o assunto da pedagogia e psicologia diariamente de forma profissional, mas quando acontece com nosso (a) filho (o), isso desestabiliza a gente de forma assustadora. Obrigada, Marina, por me abraçar com palavras.

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  5. Adorei o texto, principalmente porque me fez sentir normal, pois estou em uma fase que não quero sair para lugar nenhum, por minha filha está resolvendo as coisas agredindo as crianças. Estou me sentido péssima, e na torcida para está fase passar logo.

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  6. Que lindo Marina. Amei cada palavra que você escreveu. Eu vivo só o lado da mãe do agressor, da mãe da criança que nunca é protegida, que pelo contrário, é sempre a culpada e atacada por olhares acusadores, e isso doí mil vezes mais que qualquer mordida. Muito bom me sentir abraçada por uma mãe que já esteve dos dois lados, gratidão!

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