25 abril, 2016

Nuvens e rosas

Eu tenho mania de acreditar na boa fé das pessoas. Dia desses em uma conversa com uma amiga ela me fala que perdeu a fé na humanidade, na minha inocência, meu mundo de contos de fadas respondi: não perde não, as pessoas são boas, só que o marketing do mal é maior.
Quando criança um dia, sozinha em casa, me bate um jovem a porta falando que a família dele estava passando fome e se eu poderia ajudar com dinheiro. Como eu não tinha dinheiro, dei um pacote de arroz e um de macarrão. A noite, quando meus pais chegaram em casa contaram que o rapaz, juntamente com um grupo, havia sido preso porque estavam vendendo doações. Não vou entrar em mérito de certo ou errado, fato era que em meados de 1998 um pacote de arroz fazia muita diferença na vida da minha família. Foi então que ouvi do meu pai a minha primeira chamada pra realidade: marina, nem todo mundo é bom. Muita gente finge e aproveita a nossa bondade.
Cresci fazendo o que eu conseguia fazer pelo outro, ajudava em prova, em trabalho da escola, da faculdade, olhava filhos de amigas solteiras, oferecia minha casa (meu quarto) para que pessoas desesperadas tivessem um lugar pra dormir. E ainda assim meu pai repetia: marina, o mundo não é esse conto de fadas, você precisa parar de andar nas nuvens e colocar os pés no chão.
Mas não obedeci.
Minha casa sempre foi ponto de recolhimento para enxovais, alimentos, leite, mães. Por 10 anos mantive o mesmo número que eu, mesmo cansada da minha rotina mãe/profissional, atendia durante as madrugadas mulheres desesperadas. Saio da minha casa durante a noite para ajudar ou fotografar mulheres em trabalho de parto, sem custo.
Não me vanglorio de nada disso, faço tudo com o coração e com a maior boa vontade do mundo, faço porque gosto. Porque acredito ser minha missão nessa vida tão curta.
Continuei andando nas nuvens, até ontem.
Eu tenho um desvio na coluna que muitas vezes me deixa acamada e desde sábado a noite estava nesse estado, sem conseguir andar devido a falta de sustentação. Ainda assim trabalho, mantenho minhas atividades habituais. Mas ontem estava mais difícil do que os outros dias. Ontem, de fato, não seria um dia bom.
Por 3 anos eu mantive um grupo de mães, um grupo onde qualquer desrespeito era intolerado, um grupo onde eu fazia minha terapia e um grupo onde eu me sentia em casa. As pessoas desse grupo se dispinibilizaram a me ajudar, se uniram por conta própria e criaram uma rifa. As pessoas desse grupo sabem do histórico de trombofilia que acabou de surpreender minha família, nesse grupo uma amiga especialista em direito médico me acompanha, mas elas sentiram a necessidade de me ajudar, sem pedir, sem ter ideia, essas mulheres organizaram uma rifa para que minha cirurgia fosse feita sem a necessidade de correr o risco do plano de saúde que não levou em consideração a trombofilia. Que só pensou em gastar menos em uma cirurgia do que dividi-la.
Mas eis que uma mulher de coração enorme teve a ideia de divulgar essa ação em outro grupo de mães, se é que pode ser chamado assim, onde eu fui denominada golpista, ladra, aproveitadora, entre outros adjetivos que não cabem aqui. E pra mim, foi a gota d'água. Chorei todas as lágrimas do mundo, refiz cada passo desde a criação do blog até ontem. Chorei a minha vida, chorei por saber que habito o mesmo mundo que essas pessoas, por saber que as crias dessas mulheres irão habitar o mesmo mundo que meus meninos que são bombardeados de amor todis os dias. Desejei a morte de cada uma e depois pedi perdão pelo meu desejo. Chorei como há anos não chorava. Cai do meu mundo nas nuvens direto em uma piscina de agulhas.
Tomei 20 gotas de rivotril e um banho.
Dormi.
3 horas acordei ainda soluçando de chorar.
Outro banho, mais 10 gotas de rivotril.
Acordei, pedi perdão por todos os meus pensamentos ruins sobre o outro grupo e aquelas que falaram o que não sabiam. Desejei muito amor, pois vi que é o que falta.
Conversei com pessoas queridas, vi o sorriso nos olhos do meu filho, comi um bolo que meu tio mandou, esquentei uma feijoada feita pelo meu pai e tomei uma água com sabor de força.
Poucas vezes as palavras me feriram tanto, eu sei que vai passar. Mas sei que por muito tempo temerei as rosas, porque todas essas carregam espinhos.
E que um dia toda essa fé nas pessoas volte e volte com tamanha força que me leve de volta ao meu mundo das nuvens.

3 comentários:

  1. Sem palavras!!! Esse mundo de nuvens existe somente para algumas pessoas amore!!! Infelizmente nem todos sabem aproveitar as maravilhas que esse mudo pode oferecer! A falta de amor e a inveja são as duas causas principais de tanta destruição e sofrimento! Acalme seu coração e continue fazendo o que seu coração manda! Pobre e miseráveis esses "seres" aqui na terra!!! O mundo dá voltas! A vida é feita de altos e baixos!!! Ninguém sabe o dia de amanhã!!! Que Deus te abençoe sempre!!! Vc é um ser iluminado!

    ResponderExcluir
  2. Marina, sei que não é fácil ouvir ou ler palavras tão agressivas e maldosas, mas agarre-se nas palavras de amor e nas pessoas do bem!! bj grande e um abraço forte!! Sábado te darei um abraço físico e caloroso, afinal vc irá arrasar!! PATY SATLER

    ResponderExcluir
  3. Acredito que pessoas boas e de bom coração nunca deixarão de existir porque o amor, felizmente prevalece. Infelizmente, as pessoas estão tão materialistas que o mundo tem andado carente de afeto e com isso, ajudar as pessoas as quais eles julgam capazes, torna-se golpe. Não se abale por isso, imagino como tenha sido difícil o momento que passou, mas concentre-se nas pessoas que querem te ajudar e que refletem todo o carinho que têm e que recebem.
    Sou sua fã e sempre que possível, vejo seus snaps e suas postagens no Instagram.
    Beijinhos!!!
    Roberta Mota/ Cozinha da Robs

    ResponderExcluir